A denominação do concelho de Câmara de Lobos está umbilicalmente ligada à espécie “Lobo Marinho”. Aquando da descoberta da Ilha da Madeira, em 1419, e na sequência do reconhecimento à costa, os marinheiros aportaram a uma baia onde encontraram uma grande colónia destes animais marinhos a que batizaram de Câmara de Lobos.
Este animal, originário do Mar Mediterrâneo, está hoje em vias de extinção, sendo que na Região Autónoma da Madeira está confinado a uma pequena colónia nas ilhas Desertas.
A denominação cientifica desta espécie é “monachus monachus”, mas é vulgarmente conhecido por “Lobo Marinho” devido às vocalizações em tom de urro e também por ser um animal carnívoro. A denominação de “Foca Monge”, deve-se às pregas que possui no pescoço, quando está em descanso, que lembra um capucho de monge; e ainda por ser um animal de hábitos solitários.
MONACHUS MONACHUS
O Lobo Marinho é conhecido do homem de há longos séculos. Os primeiros registos aparecem na Grécia. Homero na sua obra «Odisseia» refere-se a estes animais nos termos “Ulisses cobrindo-se com pele de foca, meteu-se num bando delas e assim alcançou profanar os domínios de Proteu”. Com início das descobertas perpetras pelos Cavaleiros do Infante, foi descoberta em 1419 por João Gonçalves Zarco a Madeira. Em 1420 Zarco inicia o reconhecimento da ilha e a determinada altura depara-se com uma pequena enseada à qual veio a chamar Câmara de Lobos por aí existir uma gruta com Lobos Marinhos.
A aquisição de dados sobre o Monachus monachus é uma pesquisa delicada, devido em primeiro lugar ao isolamento em locais de difícil acesso a que a espécie se submeteu para sobreviver, e em segundo lugar à difícil tarefa de recolher dados sem perturbar as colónias ou indivíduos , isto porque o Lobo Marinho é muito sensível a qualquer tipo de distúrbios.
Porém sabe-se que a espécie Monachus monachus, é um mamífero marinho que pertence à ordem Pinnipedia, família Phocidae. São animais de anatomia modelada para o meio aquático, apresentam o corpo uniforme e 4 membros transformados em barbatanas.
A deslocação no mar, é através de movimentos ondulatórios da parte posterior do corpo. Os membros anteriores desempenham um papel de leme orientador e dão ajuda na deslocação em terra, que é realizada principalmente graças ao arrastamento do corpo. Apesar de habitar principalmente em mares temperados, apresentam uma camada de gordura subcutânea, que serve de reserva alimentar, proteção mecânica e térmica.
A cobrir todo o corpo existe uma pelugem castanha ou cinzenta, mais escuro no dorso e clareando progressivamente até a face ventral. Esta face ventral é uma zona clara, branca, que varia de tonalidade sendo por isso utilizada para a identificação de indivíduos. Nesta face ventral encontra-se os dois pares de mamilos.
A esperança de vida dos Monachus monachus varia mediante a sua vivência em cativeiro ou na natureza. Em cativeiro sabe-se que pode atingir os 40 anos, sendo na natureza um número indeterminado, mas sabe-se que um exemplar desta espécie atingiu os 30 anos de vivência.
Porquê o nome de Lobo Marinho?
Foi denominado Lobo Marinho, devido às vocalizações em tom de urro e também por ser um animal carnívoro.
Habitat
A “Foca Monge” (como é designado vulgarmente) é uma espécie que vive nas águas costeiras sendo raramente observados 3 a 4 Km da costa. Contudo algumas observações têm sido reportadas em mar aberto. O Lobo Marinho prefere as águas costeiras onde apresentam pequenas praias, ilhéus ou em furnas; raramente são observados em praias de areia. Habitam em furnas com entradas de acesso difícil e feitas pelo mar. Estas furnas possuem uma parte terrestre onde os Lobos Marinhos descansam, têm as crias e alimentam-nas. Possuem uma parte com água, esta parte é uma espécie de lago, onde as crias podem começar a ter os primeiros contactos com a água “aprendem” a nadar. Uma das causas do reduzido número de indivíduos, é a perturbação humana. Esta causa foi também determinante para o refúgio do Lobo Marinho a um espaço de terra restrito que modificou o seu habitat. Durante alguns meses as crias permanecem nas grutas, onde nascem, passando mais tempo dentro do que os adultos.
Em contraste com os adultos em caso de perigo, as crias fogem para dentro das furnas em vez de ir para o mar. Os períodos diurnos, de repouso nas grutas ou atividade no mar, parecem ligados ao ritmo das marés no atlântico. Na maré alta há uma redução considerável da superfície disponível no fundo das grutas e é nessa altura que as Focas aproveitam para pescar ao largo. A partida para a área de pesca efetua-se durante o período da manhã. As grutas são partilhadas pelos elementos da colónia não parecendo haver distribuição permanente dos indivíduos pelas várias furnas, isto é, todas as furnas são utilizadas por todos os Lobos Marinhos conforme as necessidades, exceção feita à época pós-parto em que os machos são segregados, servindo-se de furnas diferentes das fêmeas com as crias em fase de aleitamento. As furnas podem não ser utilizadas permanentemente, principalmente se forem palco de distúrbios nas redondezas ou incursões por pessoas, sendo abandonadas por alguns dias até o perigo passar.
Alimentação
“A Foca Monge” submerge a uma profundidade máxima de 100m., portanto a sua alimentação irá ser constituída por peixes que habitam até essa profundidade. Um indivíduo adulto, consome estimadamente 4 a 6% do seu peso por dia, o qual pode resultar em 12 Kg por dia em alimento para um indivíduo com 250 Kg.
A disponibilidade de alimentação é um dos critérios que mantém a especificidade da espécie. Os Lobos Marinhos por vezes, andam em busca de alimento junto das redes dos pescadores, correndo o risco de ficarem presos. Sabemos que os mamíferos são comedores geralmente de peixes, crustáceos e cefalópodes.
Os Lobos Marinhos procuram este alimento em locais rochosos e baixos próximos da costa e das suas colónias mas devido à escassez de alimento nestas zonas eles vêem-se obrigados a se deslocar para o alto mar, onde o alimento é encontrado com maior facilidade, mas em contrapartida eles podem ser atacados por predadores.
Reprodução da Espécie
Esta espécie apresenta a estratégia demográfica de tipo seleção “K”, isto é, baixa natalidade, compensada por uma longevidade relativamente grande. A baixa taxa de natalidade deriva de um facto de as fêmeas atingirem a maturidade sexual entre os 4 e 6 anos, e por cada fêmea fecundada nasce normalmente uma única cria, (apenas ocasionalmente nascem gémeos).
E também devido ao facto de cada fêmea apenas procriar de 2 em 2 anos. Nem sempre é assim porque depende em muito da qualidade e da quantidade de alimento, e que no caso das Desertas é variável, podendo portanto, a fêmea procriar 1 cria por ano.
Desenvolvimento das Crias
As crias nascem com cerca de 80 Cm. E pesam Aproximadamente 15 Kg. Apresentam uma pelugem negra, felpuda, de brilho acastanhada, com uma mancha branca em avental no baixo frente.
Com o desmame, a felpa negra começa por cair, dando lugar a uma pelugem semelhante à dos adultos.
- Frequência de Crias: A fêmea de foca do Mediterrâneo pode dar à luz, em dois anos consecutivos.
- Período de Gestação: 11 meses
- Prole: Apenas 1 Cria, pode acontecer raramente ter gémeos.
- Época de Parto: Em 17 partos da Foca Monge, 10 ocorrem em Setembro/Outubro, 4 em Maio/Junho, 3 em Novembro/Dezembro.
- Parasitas: Diversos Cestodos, Nematodos e Acontecéfalos que vivem no seu tubo digestivo. NA pele encontram-se ácoros.
- Estratégia Demográfica: É uma espécie submetida ao que os ecologistas chamam “seleção K”, ou seja, taxa de natalidade baixa, compensada por uma longevidade mais ou menos grande. Grande parte das espécies em regressão sofrem este tipo de estratégia.
- Longevidade: Em cativeiro, as focas alcançam uma longevidade de pouco mais de 40 anos. A idade de um exemplar selvagem da espécie do Hawtiai foi calculada em 30 anos devido a um estudo feito aos caninos do animal.
- Sex Ratio: Nas crias recém-nascidas, a proporção de ambos os sexos é muito próxima aos 50%. Acerca dos adultos nada se sabe; o ligeiro predomínio das fêmeas nos museus é pura coincidência.
- Maturidade: Crê-se que a foca do Mediterrâneo é adulta aos 3 anos. Estudos feitos sobre a foca nórdica revelam uma antecipação da maturidade sexual devido à redução dos indivíduos.
Adaptação às Ilhas Desertas
Após terem sido expulsos da Ilha da Madeira por razões já atrás referidas, estes animais refugiaram-se nestas ilhas, tentando adaptar-se às condições adversas do mar, aproveitando o relativo isolamento que estas oferecem e as grutas onde podem descansar, dormir e reproduzirem-se. Estas grutas são escolhidas consoante as condições que apresentam, isto é, se são abrigadas da ação directa das vagas, não tendo portanto uma entrada directa das vagas do mar e se apresentam praias interiores de areia ou calhau rolado que sirvam de poiso para os Lobos Marinhos.
Geralmente são grutas relativamente grandes e fundas, podendo apresentar entradas submarinas. Existem várias grutas nas Desertas que reúnem estas condições, sendo pelo menos bem conhecidas três grutas largamente utilizadas pelos Lobos Marinhos, todas situadas na Deserta Grande. A Furna dos Lobos, a Gruta da Tabaqueira e a Furna do Porto das Moças. Hoje em dia existem outros problemas que afetam toda a vida selvagem atlântica. O grande número de turistas visitando estas áreas e o grande número de desportos aquáticos que crescem em variedade e número de praticantes, afetam gravemente o habitat dos Lobos Marinhos e de outros animais.
A poluição provocada nas praias e a grande popularidade dos humanos por estas, foi também um dos vários factores que alterou radicalmente o habitat original destes simpáticos mamíferos. O que levou a afastarem-se do seu habitat original e refugiarem-se em pequenas ilhas (desabitadas) ou ilhéus. Estes tipos de problemas parecem não ter uma solução à vista, pelo menos não tão cedo. Mas não só estes problemas com que se depara a vida selvagem, pois a pesca comercial que é levada a cabo nestas zonas onde existem Lobos Marinhos, é também um factor que reduz substancialmente o número destes mamíferos, pois, eles podem ficar acidentalmente presos nas redes e morrerem.
Felizmente têm sido criadas reservas que impedem que isto aconteça como no caso das Desertas, na Grécia, no Cabo Branco, e na Mauritânia, em Monte Cristo, em Itália, e em Northen Sporades. Mas sendo protegidas por estas reservas, os Lobos Marinhos continuam a ser considerados, na Grécia, como uma peste para os pescadores.
Porquê o nome de foca Monge?
Devido às pregas que possui no pescoço, quando está em descanso, que lembra um capucho de monge; e ainda por ser um animal de hábitos solitários.